Será que somos uma família?
Em finais de Maio, a E.S. Domingos Rebelo promoveu as I Jornadas de Área de Projecto, que decorreram na Biblioteca Pública de Ponta Delgada, destinadas a dar a conhecer os trabalhos desenvolvidos pelos alunos do 12º Ano, naquela disciplina ao longo do ano.
Como palestrantes tivemos a intervenção dos Professores Doutores Piedade Lalanda, socióloga e deputada da Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores, José Baptista, investigador do Centro de Investigação de Recursos Naturais e Coordenador da Secção de Tecnologia Alimentar do Departamento de Ciências Tecnológicas e Desenvolvimento da Universidade dos Açores, e Carlos Fiolhais, físico e professor catedrático no Departamento de Física da Faculdade de Ciências e Tecnologias da Universidade de Coimbra .
Integrado no tema global “Ambiente e Bem-Estar” proposto pela referida disciplina, a Doutora Piedade Lalanda abordou a temática “Família(s)-relações com sentido”, numa perspectiva social e psicológica.
Com uma linguagem clara e pertinente, foram colocadas questões à plateia adolescente, composta pelos alunos das turmas de 12º anos, sobre as representações sociais actuais da família, sobre o que constrói uma família actualmente, se somos ou temos uma família e se ela deixa, ou não, espaço para que o “eu” do jovem se desenvolva, do ponto de vista pessoal e moral, dentro do “nós, família”.
Todas estas reflexões tinham como objectivo mostrar e sensibilizar para a importância da família, na saúde e bem-estar dos nossos jovens.
Não há dúvida de que a representação social actual de família não corresponde à dos nossos pais, em que o casamento, família e filiação eram instituições indissociáveis.
A família, nuclear ou extensa, tinha como principal objectivo a renovação das gerações, importando muito pouco as condições físicas e psicológicas dela e das crianças e jovens. Felicidade e afectividade eram conceitos ignorados pela sociedade, em geral. O divórcio, proibido em Portugal até 1997, e a separação também não poderiam estar presente no casamento, sendo este para toda a vida. E quem ousasse contrariar os ditames sociais, era estigmatizado e marginalizado.
Actualmente, com a transformação da sociedade surgem novos tipos de família como os agregados monoparentais, os segundos casamentos, famílias recompostas, coabitação, entre outras.
Perante novas representações de família, o que é que a constrói? O que faz com que ela seja considerada uma família? A casa/coresidência? O casamento? A consanguinidade? Os filhos? O apelido?
A coresidência ou partilha de espaço não é razão suficiente para fazer dela uma família. Quantas famílias, partilhando o mesmo espaço, vivem em permanente mutismo! O silêncio, forma de violência emocional, é uma característica que ainda está presente em muitas famílias.
A consanguinidade ou laços de sangue também não são razão suficiente! Quando hoje se fala de negligência e de maus tratos familiares infligidos sobre crianças e jovens, merecerão os progenitores serem chamados de pai ou mãe?
Será que o casamento, só por si, faz dela uma família?
Embora todos nós tenhamos uma família, na sua essência seremos uma verdadeira família?
Na família, unidade dinâmica e relacional, deve haver lugar para a afectividade, para a partilha e solidariedade. É isto que constrói a verdadeira família! Só assim ela pode ser vista como referência pessoal e social aos olhos das crianças e adolescentes.
Então, caberá à família, ao “nós”, criar condições para que o “eu” de cada jovem se torne num adulto independente, capaz de tomar decisões, de modo a desviá-lo de comportamentos de risco.
Sendo assim, caberá também a cada um de nós reflectir sobre a família que tem!
Manuela Macedo
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