domingo, 21 de dezembro de 2008

A UMAR na Escola Secundária Domingos Rebelo

Sabendo que a violência doméstica é um problema social actual e transversal a toda a sociedade, um grupo de alunos da Escola Secundária Domingos Rebelo do 12º Ano, a trabalhar a temática na Área de Projecto sob a coordenação da prof. Manuela Macedo, convidou a UMAR (União de Mulheres Alternativa e Resposta ) para falar às turmas H e I sobre o problema que afecta cada vez mais, e em maior número, as famílias .
A UMAR, associação que promove a igualdade e direitos das mulheres, existe há quinze anos nos Açores. Embora o apoio esteja direccionada para a mulher vítima de agressão, também há homens que recorrem à instituição, por serem alvo de maus tratos por parte da mulher. As mulheres, conscientes dos seus direitos , acrescentando a própria abertura da sociedade por estes problemas, sentem-se mais motivadas para denunciar estes casos.
A palestra teve a participação de Maria José Raposo, formadora e responsável pela direcção da instituição, da psicóloga Ana Horta, da socióloga estagiária Catarino Moniz e da assistente social Carolina Rodrigues.
Com esta acção pretendeu-se dar a conhecer o que é e em que consiste a violência doméstica e alertar para o facto da violência, física e psicológica, estar a aumentar entre os mais jovens , nomeadamente entre os jovens namorados. Se é fundamental consciencializar a camada mais jovem para a problemática da violência, muito mais importante será fazer a prevenção de qualquer tipo de violência. Há já até jovens que proíbem os namorados(as) de verem e receber chamadas de amigos(as).
A violência doméstica, existe quando duas pessoas mantêm entre si uma relação ou que coabitam no mesmo espaço, está presente no namoro, casamento, união de facto e também nas relações homossexuais, nas relações pais-filhos e relações avós-netos.
Conforme dados fornecidos pela UMAR em 2007, a nível nacional registaram-se 13050 ocorrências, tendo sido detidas 62 pessoas. Entre 2000 e 20007, foram detidas 888 pessoas. Este ano, que ainda não acabou, já se registaram 43 vítimas mortais a nível nacional, em consequência das agressões por parte do marido, ex-companheiro ou namorado. Os Açores não fogem à regra, registando-se 6 vítimas mortais, 2 das quais são de S. Miguel.
Relativamente aos Açores, este ano a UMAR tem continuado a receber imensos pedidos de ajuda, sendo a grande maioria por parte das mulheres . Em 2007, 70% foram pedidos de ajuda por parte das mulheres e apenas 10% das ocorrências foi feita pelos companheiros ou ex-companheiros.
Entre as causas da violência salientam-se as perturbações mentais (ciúmes doentios, sentimento de posse entre outros), personalidade cruel, machismo, álcool e substâncias tóxicas, stress, vivências infantis de agressão, etc.
Se é preocupante conhecer o número de pessoas que foram vítimas de violência, física e psicológica, dentro da sua própria casa , número esse que tem vindo a aumentar no continente e ilhas, muito mais preocupante será quando sabemos que há crianças e adolescentes que assistem às agressões dos próprios progenitores, sendo elas também vítimas directas dessa violência caseira. Neste ambiente familiar e com estas referências sociais, como será o futuro destas crianças e adolescentes, quando adultas? Entre os problemas psicológicos que estas crianças apresentam destacam-se a ansiedade, o medo, o isolamento social e baixa auto-estima com repercussões na ausência à escola e baixo aproveitamento escolar.
Sabendo que as crianças no seu processo de desenvolvimento físico e mental aprendem por observação e imitação dos pais ou modelos, como aprenderão elas noções fundamentais de convivência social? Como irão decorrer as suas relações interpessoais ao longo das suas vidas? Serão crianças felizes? Serão adultos responsáveis? Como podem eles, quando adultos, ensinar valores, sentimentos e afectos aos filhos, quando eles próprios não os obtiveram?
Conhecendo nós que em termos de comportamento humano não existem determinismos, ainda que estas crianças quando adultas venham a ser bons pais, as sequelas psicológicas irão percorrer toda a sua vida. Será com grande angústia que estes pais recordarão a sua infância infeliz. Será com grande ansiedade que eles viverão as suas vidas, com medo de não conseguirem dar aos seus filhos aquilo que eles por direito deveriam ter tido: amor e carinho.
Infelizmente a violência doméstica continua ainda hoje no século XXI a ser um problema silencioso, um cancro que corrói devagar sem ser detectado, muitas vezes levando a fins atrozes. Mudar comportamentos exige, antes de mais, mudar consciências. Façamos, por isso, um esforço.
Há que acabar com velhos mitos de que “quanto mais me bates, mais gostas de mim” e ver o seu companheiro(a), amigo(a), namorado(a), filho(a) como Pessoa com direitos e deveres, os quais todos temos que aceitar e respeitar.


Um artigo do projecto Fora de Portas

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