Para retomar o velhinho conceito de alienação, que Marx desenvolveu em algumas das suas obras, o perigo do uso da tecnologia no ensino, como aliás na maior parte das actividades humana, está no facto de o usuário não dominar o processo que a máquina põe em acção. Neste sentido, o produto final do manuseio técnico ultrapassa o criador dele. É verdade que há qualquer coisa de diferente quando comparamos o produto didáctico feito por via informática de uma qualquer mercadoria à saída de uma linha de montagem. Desde logo pela sua dimensão lúdica que solicita a adesão da nossa parte e que só muito a custo lhe resistimos. Mas em todo o caso isso não invalida que muitas das vezes se instale entre nós, mero utilizador ou mesmo criador, e o produto cibernético, um abismo ou uma estranheza. Se o operário sente o processo de produção como algo que lhe é estranho, como algo opressivo, também na máquina e no uso que dela fazemos isso acontece. A ilusão que no usuário se instala pela aparente facilidade - a microsoft tem investido exactamente nisso -,com que lida com o artefacto cibernético faz esquecer que se trata de um processo que escapa à nossa compreensão.
Um outro aspecto que merece reflexão é a tentação de considerar a cibernética e a informática como mera utensilagem, à maneira de uma mola para prender a roupa. As máquinas informáticas não têm nenhuma função específica. Um computador não é uma máquina de escrever. Um ordinateur - dizem os franceses. E a razão está do lado deles: processa, calcula, orgasniza mas também ou sobretudo ordena. E com isso somos ordenados. Deixamos de utilizar a máquina. Ela utiliza-nos criando em nós a ilusão de que somos o utilizador.
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