quinta-feira, 15 de maio de 2008

do giz e do gizar o futuro

É verdade, o uso de uma nova tecnologia provoca sempre uma qualquer espécie de recusa. É que a tecnologia, nos dias de hoje, apesar do seu uso cada vez mais intensivo, nos aparece como que sacralizado. Nela depositamos quase todas as nossas esperanças de redenção. Do ensino à satisfação das necessidades básicas, a tecnociência promete a resolução de todos os problemas. Mesmo que, à sua conta, crie alguns novos. Os biocombustíveis, as perversidades em potência da manipulação genética, a confusa identificação entre informação e conhecimento, são alguns exemplos da hipervelocidade da tecnologia face aos ritmos naturais da vida. No ensino também se passa alguma coisa de semelhante. O vertiginoso acesso à informação que as modernas tecnologias permitem só dificilmente é compatível com o ritmo lento inerente à aprendizagem. Aprender e ensinar exige tempo, exige a pausada modulação da voz ou o gesto familiar dos dedos da mão a prolongar-se na escrita a giz num quadro de sala de aula. Levará tempo a habituarmo-nos à rapidez de um quadro multimédia ou ao holograma projectado num espaço a que a custo chamaríamos de sala de aula ou ainda à transferência neuronal de conteúdos informativos entre o mestre e o discípulo, mas o futuro se encarregará de cumprir essa promessa. Entretanto, só nos resta fazermos o nosso melhor e, muitas vezes, o giz é, sem dúvida, o melhor de que nos podemos socorrer para desenhar um conceito, uma ideia, uma inequação ou um polígono.

6 comentários:

Domingos disse...

O giz...porque não!
Ausubel refere que Aprender requer a "ancorização" de novos conceitos a conceitos já existentes no aprendiz.
Cabe ao professor procurar a melhor aproximação dos novos conceitos aos "ancoradouros" de cada aprendiz, sendo certo que a variedade do tipo de "embarcações" utilizadas poderá conduzir a um maior número de "atracagens" seguras.
Para uns a "enbarcação ideal" poderá ser a apresentação informática enquanto que para outros poderá ser uma conversa, uma discussão um um rabisco no quadro a GIZ...
Penso que, como na natureza, a diversidade é inprescindível para a "evolução" dos nossos alunos

fernando disse...

pois, mas como explicar isso quando os critérios de avaliação profissional hipervalorizam a «inovação» e a disponibilidade para a «mudança»?

Anónimo disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Domingos disse...

Será que realamente os professores de hoje conseguem mostrar alguma inovação aos seus alunos utilizando as tecnologias da informação?
Não será inovar utilizar metodologias arrojadas que levem os alunos a interessarem-se pelas apredizagens que promovemos... o Giz pode fazer a diferença nesses casos.

Domingos disse...

mudança e inovação podem não ser sinónimos de tecnologia.
Mudança significa, para mim claro está, alterar a forma como vemos os alunos, a escola, o ensino, os programas, a avaliação.
Inovar pode significar surpreender os alunos "prendendo-os" às apredizagens que queremos que eles queiram....
Não poderá ser o GIz um bom amigo?

fernando disse...

Atribulações de um giz!
Duas coisas distintas me parecem estar em discussão: práticas educativas inovadoras e uso de ferramentas tecnológicas. O giz, coitado dele, está destinado a ficar fora desta equação. Quando dizemos giz, é mesmo giz, aquele giz que todos conhecemos, que se parte se o pressionamos mais do que a conta contra o quadro, que inalamos quando o esfarelamos ou que se recusa a deixar a sua marca quando a superfície do quadro está molhada. Dito assim, o giz fica em clara desvantagem perante as novas TIC. E, no entanto, o giz também uma ferramenta. Então, o que é está a mudar? Tudo!As TIC não são apenas uma ferramenta! Que eu saiba nunva houve acções de formação para uma adequada utilização do giz na sala de aula!!!