Compreender sem teorização…
Aproveitando a participação de Cooper Moore e Michael Wimberly no Festival de Jazz dos Açores - 2011, as professoras de Inglês Margarida Maia Costa e Lurdes Tomás proporcionaram ao 11º B e 11º C um momento que, certamente, ficará na memória daqueles que tiveram o privilégio de estar presentes no encontro/aula que decorreu entre os músicos, compositores e construtores de instrumentos musicais (o primeiro, originário da Virgínia, o segundo, do Ohio, mas ambos a viver em Nova Iorque), no dia vinte e sete de outubro.
Descrever o que nesse encontro aconteceu é repensar um conjunto de preconceitos cada vez mais enraizados na prática letiva (a necessidade de serem utilizados muitos materiais, a informática ser uma ferramenta fundamental para que os alunos se motivem para a aprendizagem, …). Efetivamente, Moore e Wimberly apenas utilizaram instrumentos de aprendizagem rudimentares – o corpo, a voz, elementos do público, um quadro negro e giz que, devido à humidade ou ao calor – humano e climático –, do dia e do momento, teimava em partir-se. Depois, é olhar para o que aconteceu e perceber que houve uma real aprendizagem, no sentido em que “conteúdos” de áreas diversas convergiam para a compreensão da música como linguagem universal – da arte dramática (o riso e o choro confrontaram-se na verdade e na mentira da transmissão do sentimento), da linguística (os sons vocálicos como essenciais para a marcação da musicalidade da palavra e esta, no seu todo, como matéria de trabalho para a construção de sentido dentro da frase; a frase como “diamante” a ser delapidado por forma a descobrir a forma perfeita para o que se quer transmitir - prosódia, portanto). Uma frase tão simples como “Are you ok?” assumiu tal sonoridade que, a determinada altura, se transformou num verso da música “soul”. Mas também concorreram a Geometria e as referências a Pitágoras, a Álgebra e a Aritmética para que conceitos como ritmo e harmonia, fundamentais na composição, se introduzissem no diálogo.
Teoria sem teorização. Espantoso. Tudo isso acompanhado de exercícios extremamente simples que envolviam o conhecimento que os participantes tinham do próprio corpo como instrumento musical (as mãos, os pés, as coxas ou o peito serviram como instrumentos de percussão, de marcação de ritmo, de criação de harmonia, de composição). Por outro lado, a música tem uma linguagem simbólica própria, a do solfejo, daí se ter visto a palavra ou a frase transformadas em colcheias e semi-colcheias; uma canção popular e infantil (“Atirei o pau ao gato”), traduzida para inglês e entoada com os mesmos timbre e tom da original, mas também introduzindo variação e improvisação, cantando-a de forma triste ou bélica.
Se o conhecimento é transversal e transdisciplinar, o encontro/aula com Cooper Moore e Michael Wimberly foi, sem dúvida, um ótimo exemplo, não fossem eles exímios criadores e comunicadores de emoções.
Foi um privilégio!
Foi um privilégio!
Pedro Medeiros, professor de Português